No ano de comemoração do centenário de Paulo Freire, o Patrono da Educação Brasileira, que é conhecido e respeito em todo mundo por seu trabalho e sua obra, nada mais necessário do que trazermos a educação dialógica para o centro do debate acerca das possibilidades de atuação de professores e alunos em sala de aula.
Olhando para a etimologia da palavra dialógica, encontramos o termo diálogo e este, por sua vez vem do grego διάλογος diálogos, e se divide em duas partes, a saber: dia, que significa através e logos que significa palavra, tratado, estudo. Dessa forma, como bem coloca a Dad Squarizi, “em bom português: trata-se de entendimento por meio da palavra.
O número de participantes não conta. Podem ser dois, cinco, cinquenta.” Tendo, pois, como base essa explicação, ao falarmos em educação dialógica, alguns pontos já se apresentam, tais como a) o envolvimento de várias pessoas; b) a busca pelo entendimento de algo e c) a possibilidade de construção desse conhecimento através da escuta e da fala.
Assim, ao levar a proposta de uma educação dialógica para sala de aula, Paulo Freire amplia e transforma a ideia de formar uma pessoa, ao propor o diálogo e dar espaço para a escuta/fala do estudante e não apenas do professor. Por trás desse exercício está o desafio de romper com uma formação ao estilo “educação bancária” na qual o professor fala e o aluno escuta. É aquela velha fala que associa educação à transmissão de conhecimento. Para romper com essa fala é que entra em cena a proposta de educação dialógica.
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Além de Paulo Freire, pensadores como Lev Vigotsky e Jurgen Habermas, dentre outros, propuseram o desenvolvimento um processo educacional mais voltado para esse exercício do diálogo. Para tanto, um dos primeiros aspectos a ser observado, é a necessidade de saber que o conhecimento é produzido num processo dialógico e não apenas a partir da fala do professor.
Para tanto, ambos os discursos, de docente e discente, precisam ser valorizados. Saberes que o estudante já processou e elaborou ao longo de sua vida, podem e devem ser utilizados na forma como esse ser interage, analisa e reelabora o conhecimento dialogado, enriquecendo-o e ressignificando-o a partir dessa experiência. Daí o fato de a educação dialógica ser muito utilizada na educação de adultos, em qualquer um dos níveis, seja ele na educação básica ou na educação superior.
E voltando à etimologia da palavra diálogo, é pertinente reforçar que exercitar a educação dialógica em sala de aula sempre leva os envolvidos a um caminho de descobertas e de construção do conhecimento acerca de um dado assunto. A forma como estudantes e professores vão se relacionar com essa construção está associada tanto que já existe sobre o que está sendo estudado, quanto ao que o aluno traz de sua vivência.
Como resultado, pensar nesse exercício e praticá-lo, é levar para a sala de aula a possibilidade de todo e qualquer tema poder ganhar um significado para os alunos, a partir do momento que eles poderão não apenas registrar o que já se sabe sobre ele, mas ir além. Assim, através dessa fala e escuta generosas, acrescidas de saberes preexistentes dos alunos, o que é estudado ganha um sentido e uma importância para o aluno, visto que é ampliado por um significado nascido do seu olhar e das suas experiências.
Para chegarmos a isso, é importante que a sala de aula se abra para vozes, reflexões e debates que sempre tragam ideias capazes de extrapolar o ato de apenas aprender algo, passando para o ato de apreender, compreender e ressignificar o conhecimento. Enfim, crescer por meio da palavra.