As Linguagens da Arte e a Criança: concepções e metodologias

crianças lendo livro para ilustrar texto sobre arte

Você certamente já ouviu falar que estudar arte aumenta o QI dos alunos, que eles ficam mais inteligentes do que os que não estudam e que, por isso, é importante ter aulas de artes nas escolas?

Essa é, infelizmente, uma afirmação bem comum de se ouvir, até mesmo de pessoas da área de educação.

Só que isso não é uma verdade, pois a ciência já provou que estudar arte não afeta diretamente a cognição.

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Esse mito surgiu por volta de 1993, quando um estudo publicado na revista britânica Nature (que existe desde 1869 e é um dos mais sérios periódicos científicos do mundo), os cientistas responsáveis pela pesquisa descobriram que, depois de ouvir música, as pessoas se saíam melhor em tarefas espaciais, como interpretação de mapas.

Mas isso é bem diferente de aumentar a cognição, ou seja, de deixar alguém “mais inteligente”, não é verdade?

Em estudo de 2013, o pesquisador Samuel Mehr, doutorando da Escola de Pós-graduação em Educação da Universidade de Harvard, apresentou a comprovação científica da desconstrução desse mito, de que estudar música amplia a inteligência dos alunos, fato que não ficou comprovado nas pesquisas desenvolvidas por ele, que estudou ao longo de um ano o comportamento de 29 crianças, divididas em dois grupos: quinze tiveram aulas de música, e quatorze, de artes visuais.

Depois das aulas, os meninos e meninas foram submetidos a testes que avaliavam capacidades como vocabulário, raciocínio matemático e habilidade espacial.

Sabe qual foi o resultado?

Os dois grupos tiveram resultados semelhantes nos testes de vocabulário e de matemática.

As crianças que receberam lições musicais se saíram um pouco melhor em uma das duas tarefas de habilidade espacial, e as que estudaram artes visuais foram um pouco melhor na outra. Mas as diferenças foram tão insignificantes que é mais certo afirmar que se deveram às características pessoais das crianças.

Você deve estar pensando: mas, isso não prova nada…

Bom, para confirmar o resultado, o pesquisador dividiu um novo grupo de 45 crianças em duas equipes: uma delas recebeu treinamento musical, e a outra não recebeu nenhum treinamento.

Sabe o que aconteceu?

Nada! Novamente, não houve indício significativo de que a música beneficiasse as habilidades cognitivas dos pequenos que tocaram instrumentos.

Apesar dos resultados, Samuel Mehr afirmou que o estudo da música deve continuar sendo incentivado. Sabe por quê?

Quando perguntado, ele respondeu: “Para mim, o benefício mais importante é simples: aulas de música aumentam os conhecimentos musicais das crianças. Música é uma atividade antiga e unicamente humana, de um incrível significado cultural. Não é necessário justificá-la de outra maneira”.

A notícia foi matéria da Revista Veja, publicada em 12 dezembro de 2013 e atualizada em 6 de maio de 2016. E essa história ilustra bem como ocorre a construção do conhecimento. A ciência evolui, mudou, de acordo com as novas descobertas das pesquisas. Uma coisa que era de um modo antes, pode não ser mais do mesmo modo, quando novas pesquisas são feitas, trazendo resultados com novos pontos de vistas.

Essa pesquisa de 2013 se aproxima bastante das ideias já defendidas por Eliot Eisner (professor de arte e educação na Universidade de Stanford, nos EUA, estudioso das áreas de arte-educação, reforma curricular e pesquisa qualitativa).

Defensor da corrente essencialista, Eisner afirma que arte é importante por si mesma e não como instrumento, ou meio.

E esta é a concepção contemporânea que justifica a importância do ensino de arte na escola: essencial para a formação global dos indivíduos.

A arte é um campo de conhecimento Empírico-Conceitual, é importante por si mesma e não como “ferramenta” para se atingir outras coisas. Aprendemos arte porque é arte.

Como eu sempre digo: “a arte de um povo é um de seus Patrimônios Culturais e conhecer seus patrimônios faz parte da formação.”

Autoria: Jurema Luzia de Freitas Sampaio

Revisão: Juliane Raniro

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