Quer ouvir uma unanimidade? Pergunte para uma pessoa o que ela mais gosta de fazer. Grande parte dessas respostas será: viajar. Os motivos podem parecer óbvios, afinal, é muito interessante fugir da rotina, desprogramar o despertador ou comer sobremesa no café da manhã. Tudo é aceitável durante um período de férias. É como se nos déssemos oportunidades especiais para otimizar toda uma vida muitas vezes presas em tarefas contínuas.
Mas o que mais está por trás disso? Segundo a empresária, jornalista e turismóloga Gilsimara Caresia, muita coisa. Após viver 17 anos trabalhando como bancária, ela resolveu deixar tudo de lado e se reinventar dando uma volta ao mundo. “Eu já fazia mochilão desde os anos 1990. Quando resolvi deixar o meu trabalho formal, lá em 2015, eu já conhecia mais de 40 países. Foram dois anos ininterruptos de viagens, dos quais passei bastante tempo na Índia e Nepal. O meu principal objetivo ali era a autodescoberta”.
Sob o olhar dos profissionais de coaching, o processo de autodescoberta é essencial para a constante melhoria do ser humano. Isso porque, em dado momento da vida adulta, aprender coisas novas ou aprimorar outras deixa de ser uma prioridade. A rotina de trabalho, em geral, toma muito tempo de vida das pessoas adultas, que passam a questionar a real importância de voltar o olhar para dentro.
Foi em busca disso que Gilsimara, também conhecida como Gil, foi desbravar o mundo para conhecer o outro e aprender como isso poderia ser válido para ela própria. “Eu acho que sair da zona de conforto também é muito importante. Existe aquele momento em que as pessoas viajam para os Estados Unidos ou a Europa e começam a achar que tudo no Brasil é ruim; e existe o momento de visitar os lugares onde as coisas estão mais difíceis do que aqui, onde tem miséria, pobreza… Quando a gente se expõe a essas situações diferentes do dia a dia, a gente acaba se transformando. Na nossa rotina, vivemos repetições. Numa viagem, colocamos outros limites à prova. Emocionalmente e até fisicamente”, conta.
Vivendo o novo
Em países como a Índia, que tem uma realidade bem diferente da nossa em muitos aspectos culturais, mas bem próximo quando tratamos de desigualdade, é relativamente fácil se desafiar. Durante a vivência lá, a empresária frequentou ashrams (a residência dos yogis), foi voluntária em uma ONG nepalesa e num hostel no deserto, e até caminhou na base do Everest. Cenas inimagináveis para uma pessoa que vive tipicamente a cena da cidade grande. Entre as experiências mais curiosas, Gil destaca as artísticas. “Eu dancei num festival, na frente de três milhões de pessoas, e fui figurante de um sucesso do cinema de Bollywood”. Quantas oportunidades como essa temos quando não saímos da zona de conforto?
Ressignificação profissional
“Ao voltar para o Brasil, usei a expertise que tinha com o turismo e comecei uma agência voltada a roteiros para mulheres, porque acabei virando referência sobre viagens independentes. Foi quando nasceu a Girls Go – viagens e autodescoberta. No meio desse processo intenso, Gil conseguiu repensar também os seus rumos profissionais e começou a atender um nicho até hoje não muito explorado: o das viagens exclusivas para garotas. Hoje ela faz roteiros nacionais e internacionais, além de colaborar como escritora para alguns portais.
Foto: Gilsimara Caresia/arquivo pessoal
Se programar para se conhecer
“Acho que a escolha do lugar para viver isso é uma questão pessoal, tem gente que já ‘sente o chamado’. A primeira coisa é fazer a relação dos seus medos pessoais. Quando dizem que um lugar é violento, vá a fundo, pesquise. É importante estar confortável com as decisões”, ela explica.
Outro fator decisivo para quem quer se autoconhecer é a verba. “Se a pessoa não tem muito dinheiro disponível ela pode começar pelo Brasil. Não precisa ir muito longe para confrontar o novo. Há um tempo eu levei um grupo para conhecer uma tribo indígena em Ubatuba (litoral norte paulista) e um quilombo. Foi uma das coisas mais bonitas da minha vida poder estar em contato com essas histórias do Brasil. Existem diversas opções, inclusive para quem está sem dinheiro. Seja voluntário. Às vezes você se transforma distribuindo alimento no centro de São Paulo. Dá pra cada um sonhar de acordo com as suas possibilidades”.
Foto: Gilsimara Caresia/arquivo pessoal
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