A importância do uso da bicicleta no transporte urbano

pessoas andando de bicicleta na Avenida Paulista, em São Paulo

Nos últimos anos, houve um aumento da oferta de infraestrutura cicloviária, principalmente em cidades grandes e médias. A partir da década de 2010, houve o aumento maciço de investimento na infraestrutura por parte, principalmente, das prefeituras que viram na bicicleta parte da solução de mobilidade das pessoas. Esse avanço ganha força em 2012 com a instituição da Política Nacional de Mobilidade Urbana que, entre outras ações, incentiva o uso de transporte ativo, como a caminhada e a bicicleta.

Mas o que no início mais parecia um modismo, acabou modificando o comportamento no trânsito. Com exceções de alguns municípios que já possuíam um histórico do uso da bicicleta como meio de transporte, como por exemplo as cidades litorâneas (e isso não significa que havia uma infraestrutura adequada), aos poucos outros municípios incluíram a bicicleta na pauta da discussão sobre os sistemas de transporte urbano.

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Inicialmente visto como equipamento para lazer ou como meio de deslocamento para as pessoas mais pobres, a bicicleta virou até símbolo de status, com modelos que chegam a custar o valor de uma motocicleta, além do surgimento das bicicletas elétricas, que pode ser uma boa alternativa para regiões menos planas. E mais do que o valor como meio de transporte, virou um símbolo da vida sustentável: consome poucos recursos para sua construção, não polui, contribui para uma vida saudável, torna o trânsito mais humanizado e ajuda na socialização, pois é muito comum os usuários ser reunirem à noite ou fim de semana para passearem.

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Claro que nem tudo são rosas para os ciclistas: a insegurança seja no trânsito ou pública ainda assusta os usuários, além da falta de infraestrutura adequada, não só nos deslocamentos, mas também para estacionar ou guardar bicicleta. Nos locais de trabalho geralmente não há vestiários apropriados para os usuários trocarem de roupa ou tomarem banho. Esses são alguns dos entraves para o aumento da adesão ao uso da bicicleta. E temos também os seguintes problemas, mais relacionados às características do ambiente construído e da cidade em si: grandes distâncias a percorrer, a topografia desafiadora e o clima tropical, que fogem das competências do profissional de Engenharia de Tráfego, embora haja adaptações possíveis que podem favorecer o ciclista.

Ainda há resistência muito grande para a implantação de infraestrutura cicloviária, pois argumenta-se que “rouba” o espaço dos outros meios, principalmente do automóvel. É comum a seguinte afirmação: “não passa quase ninguém nessa ciclovia”. Mas esquecem ou ignoram que, em muitos casos, a própria via não tem movimento, com faixas de rolamento ociosas ou bastante largas, ou a área destinada ao estacionamento foi suprimida, onde veículos ficavam estacionados o dia inteiro! Enquanto para o ciclista, qualquer espaço exclusivo sem carros, por menor que seja, facilita muito o seu percurso.

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Mas não é apenas no campo do deslocamento pessoal que a bicicleta ganhou importância, milhares de pessoas passaram a obter o seu sustento através da bicicleta: passaram a atuar como entregadores. Não que não houvesse entregas feitas de bicicletas antigamente, aliás os entregadores ciclistas eram muitos comuns até a popularização da motocicleta. Contudo, a partir de 2015, com a popularização do pedido de refeições via internet ou aplicativo de celular, abriu-se um nicho para entregadores de bicicletas, pois puderam selecionar rotas que sejam mais atrativas para entregar.

Com a pandemia da Covid-19, que chegou ao Brasil em 2020, este trabalho ganhou ainda mais profissionais por uma série de motivos: o aumento da demanda, uma vez que havia restrições ao deslocamento e ao consumo de refeições nos locais de preparo, o temor das pessoas em sair de casa, aliada à suspensão de contratos de trabalho, desemprego ou subaproveitamento da força de trabalho, empurrou uma parcela considerável de mão-de-obra para essa forma de ocupação. E ainda houve o aumento de entregas de e-commerce, também pelos mesmos motivos.

Um outro fato é que a pandemia forçou as pessoas a evitarem o uso de transporte coletivo como ônibus ou transporte sobre trilhos, uma vez que a aglomeração das pessoas facilita a transmissão do vírus causador da doença. Como opção, muitos usuários acabaram por adotar a bicicleta para os seus deslocamentos e assim mais pessoas puderam conhecê-la como opção de transporte, ainda que em um contexto caótico para a sociedade no geral.

Para melhor uso da bicicleta como meio de transporte, devemos entender que os sistemas de transporte urbano são complementares, ou seja, nem sempre é possível efetuar todo o deslocamento utilizando apenas um único modo. A solução do problema de deslocamento passa pela integração dos meios, principalmente nas grandes cidades e metrópoles brasileiras, nas quais é comum percorrer distâncias diárias superiores a 10 km. Tendo isso em vista, o uso da bicicleta como estratégia para realizar os trechos iniciais e/ou finais das viagens, o que se denomina “integração modal”, pode enfrentar alguns obstáculos, como os descritos a seguir:

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Em alguns terminais de ônibus ou de transporte sobre trilhos, são oferecidos paraciclos ou bicicletários para os usuários, mas que na primeira hora de operação já estão lotados, indicando uma demanda reprimida no uso da bicicleta. A solução seria ampliar estes espaços, que ainda enfrentam o problema de furtos.

A proibição da entrada de bicicletas nos meios de transporte coletivo, o que é facilmente explicável, uma vez que já enfrentam o problema da superlotação. Mesmo quando são permitidos em horários fora de pico, ainda há o problema da falta de espaços adequados para transitar com a bicicleta dentro das estações.

Se o usuário quiser realizar parte de seu deslocamento com o uso de bicicleta, ele vai precisar contar com a disponibilidade de bicicletas alugadas ou compartilhadas, através do pagamento de uma taxa ou associação, mas essa ainda é uma solução limitada a poucas cidades. As bicicletas alugadas e compartilhadas geralmente possuem estações próprias para o estacionamento, porém algumas das bicicletas compartilhadas podem ser deixadas em qualquer lugar, são as chamadas “dockless”, podendo virar obstáculos para outros transeuntes.

Temos um longo caminho para melhorar e ampliar o uso das bicicletas nas cidades, mas o mais importante é que os primeiros passos foram dados com a criação de infraestrutura e conscientização, trazendo a bicicleta para a discussão.

Autor do texto: Leonardo Hotta

Revisora: Bruna Pizzol

 

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