Quem é Angela Davis? Biografia e história da ativista

Davis

Considerada uma das maiores vozes do feminismo negro, Angela Yvonne Davis cresceu em um cenário marcado por lutas políticas e grandes conflitos raciais. Angela nasceu em 26 de janeiro de 1944 na cidade de Birmingham, no estado do Alabama, um dos locais com mais entraves segregacionistas dos Estados Unidos. Desde nova, viu as ações da organização Ku Klux Klan acontecerem.

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Birmingham sofreu com diversos ataques. Em 15 de setembro de 1963, o grupo explodiu uma bomba em uma igreja batista da cidade, que resultou na morte de quatro meninas. Esse episódio marcou a história do país, que lutava contra leis segregacionistas. Angela Davis viu o racismo muito presente e, desde cedo, construiu uma trajetória marcada pela luta em prol dos direitos civis dos negros, especialmente pelos direitos das mulheres.

A história de Angela Davis

Angela Davis no Partido Comunista
Reprodução/Instagram/_angeladavis1944

Sua atuação militante começou aos 14 anos, quando ganhou uma bolsa para estudar em um colégio no bairro de Greenwich Village em Nova Iorque e, assim, estabeleceu o primeiro contato com as teses do marxismo e comunismo, filiando-se mais tarde ao Partido Comunista e a movimentos sociais como o Panteras Negras, que surgiu na década de 1960, e Black Power.

Na época, em especial na região Sul dos Estados Unidos, as pessoas negras não tinham direitos civis em diversos locais. É o caso, por exemplo, de negros não poderem se matrícular em determinadas universidades e escolas e até mesmo entrar em estabelecimentos, como restaurantes. Foi então que começaram a realizar protestos contra o racismo e, com muita luta, foram em busca dos seus direitos.

O Partido das Panteras Negras foi fundado especificamente em 1966, em Oakland, na Califórnia, por dois estudantes universitários, Huey Newton e Bobby Seale, que batalhavam em uma luta antirracista. Angela participou do movimento, mas em uma frente mais pacífica. Os Panteras Negras chegaram ao fim em 1982.

Quando tinha 19 anos, em 1963, começou a estudar filosofia na Universidade de Brandeis, em Massachusetts. Ela teve como professor o filósofo alemão Herbert Marcuse, que pertenceu à Escola de Frankfurt. Foi nessa época, inclusive, que a grande luta dela começou. É a partir da história contada no início do texto: a explosão da igreja em sua cidade de nascimento. As vítimas eram conhecidas de Angela Davis.

Com seu envolvimento nos movimentos das Panteras Negras e com o Partido Comunista, em 1969, ela, que era professora na Universidade da Califórnia, foi demitida. Em sua trajetória, realizou pesquisas na Alemanha e atuou ativamente nos movimentos negros e feministas, como o Comitê Estudantil de Coordenação Não Violenta (Student Nonviolent Coordinating Committee – SNCC).

Angela Davis entrou para a lista do FBI

Button com imagem de Angela Davis e a mensagem Free Angela
Elizabeth Paik/Shutterstock.com

Sua fama mundial foi desencadeada quando virou protagonista de um dos casos jurídicos mais famosos dos Estados Unidos. Militando em prol dos acusados em um julgamento criminal, Angela acompanhava a sessão quando o irmão de um dos réus, em posse de arma de fogo, rendeu todos os presentes na tentativa de ajudar em uma fuga. Com a chegada da polícia, um tiroteio foi iniciado resultando na morte dos acusados e do juiz.

Encerradas as investigações sobre o caso, a polícia identificou que a arma utilizada no crime estava em nome de Angela e sua prisão foi decretada. Mesmo afirmando ser inocente, foi acusada por conspiração e envolvimento no tiroteio, sendo perseguida por dois anos e tornando-se a terceira mulher a entrar para a lista dos mais procurados do FBI. Passados dois meses, ela se rendeu e acabou sendo condenada em 1971. Diante do ocorrido, sua imagem ficou mundialmente famosa com o início do movimento “Libertem Angela Davis”.

O movimento teve uma repercussão histórica na sociedade norte-americana e artistas como os Rolling Stones e John Lennon escreveram músicas em homenagem à Davis e oposição à sua prisão. Após 18 meses, o júri chegou ao veredito de que o fato das armas estarem supostamente no nome de Angela não seria suficiente para condená-la aos crimes que lhe foram imputados, o que fez com que ela finalmente fosse solta e inocentada de todas as acusações.

A mobilização social gerada pelo caso, somada à sua história de luta pelo feminismo e igualdade racial, contribuíram para que Angela compartilhasse seus ideais a partir da publicação de diversos livros, sendo considerada uma das vozes mais influentes sobre o tema. Sua obra mais importante, Mulheres, Raça e Classe, foi publicada na década de 1980 e considerada um marco na doutrina sobre o feminismo negro. No Brasil, o livro só foi publicado em 2016.

Mulher, negra, feminista e comunista

Angela Davis no Rio de Janeiro
Antonio Scorza/Shutterstock.com

Angela é professora emérita do departamento de estudos feministas da Universidade da Califórnia, filósofa e ativista, dando palestras pelo mundo todo. Militante contra a discriminação racial, ela luta pelo equilíbrio entre raças, gêneros e classes. Ainda hoje, se envolve em lutas políticas e sociais. 

Nesse desdobramento, Angela ainda defende o fim do atual sistema carcerário. Sob sua perspectiva abolicionista, os presídios representam o reflexo das políticas racistas, o que não contribui para a diminuição de crimes. Em sua passagem pelo Brasil para palestrar em universidades e participar da conferência sobre o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, Davis afirmou que a escravidão não foi completamente abolida e que as prisões ainda remetem ao modelo de escravidão.

Seu discurso progressista, voltado para a discriminação da mulher negra e como a supremacia branca ainda reflete problemas raciais na contemporaneidade, demonstra claramente o quanto seus ideais se aplicam aos dias de hoje. Mulher, negra, feminista e comunista, Angela Davis é um dos grandes nomes do ativismo negro e sua resistência serve de lição para nos lembrar que a luta contra a discriminação social é diária e políticas racistas e sexistas não devem ser toleradas.

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